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Sunday, December 01, 2013

SANTA LUZIA


Dia-a-dia, cobiçada baia

Embora vivendo de amor em dia

É terra com relva sempre vazia

Vargem que morre com a maresia

Santa Luzia, Grande baia

Em ti procurei alegria

Sempre que ao mar me fazia

Homens distantes, Luzia acolhia

De mim, entretanto, apenas se ria

Ó Santo Cabo, por que demoras penetrar esta baia?

In: Amor sem Pudor

Friday, November 01, 2013

CALDO DE AMOR


Andamos anos
Um compondo versos
Outro fazendo pedaços
Ela um poço de sede
Eu um rio sem mar

Um dia, nossos corpos involuntariamente se tocaram
Chamas há muito ocultas acenderam
Eu procurando mar para desaguar
Ela procurando água para sede saciar

Rolou o tempo
Sua sede transformada em fogo
Minh’água transformada em lago
Eu, um leão faminto
Ela, vitelo perdido
Como chave na fechadura, tomarmos um caldo!

In: Amor sem Pudor (no prelo)                                                   

Tuesday, October 01, 2013

TREPADA DE GALO

Rochedos salientes na savana delgada

Corre o cabrito, corre a vaca malhada

Correm homens, corre o gado

Rio abaixo no solo escavado 

Gotejos em tempo próprio

Corre água, corre leite com brio

Entre rochedos, no meio a cascata

Zurra a burra, descansa a vitela sensata

Sobe, desce pêndulo guiado a martelo

Corpo presente, na memória ausente o pesadelo

Na relva relincha o cavalo
No arbusto trepa o galo!

In: Amor sem Pudor
 

Wednesday, September 18, 2013

A TRIPLA DIMENSÃO DO(s) 10ENCANTOS DE SOBERANO CANHANGA

NOTA PRÉVIA DO AUTOR

O meu Sonho começado nos anos 90 e retomado com mais vigor com a abertura desta página vê-se realizado com a publicação do livro que traz o mesmo título deste Blog. Vamos caminhar, buscando agora atingir a forma e perfeição inatingidos no primeiro poemário. Siga-nos atento como o faz Nguimba Ngola.

AS TRÊS DIMENSÕES DO(s) 10ENCANTOS DE SOBERANO CANHANGA
Por: Nguimba Ngola
Setembro é o mês em que nasceu Agostinho Neto e, no dia 17, o nosso poeta transita. O povo lembra-se dele nas várias dimensões da sua vida, como poeta e político. Na Cidade Diamante, a cidade da Pedra Brilhante, Neto também foi lembrado. Várias foram as actividades.
Na manhã do dia 16, o anfiteatro da Escola Média Politécnica, transbordou literalmente de alunos. Sim. Plateia jovem ouve atentamente a governadora, Cândida Narciso, palestrando sobre Agostinho Neto. Em seguida, vem a apresentação do terceiro (O Sonho de Kaúia, Manongo-Nongo, 10encantos) livro do escritor Soberano Canhanga, jovem de Libolo, onde nasceu há 37 anos.
 
A mim, coube a missão, desnecessária (?), de apresentar o livro que, depois de alguma relutância, aceitei porquanto tinha sido indicada outra apresentadora que por motivos alheios não se fez presente.
Soberano é um dedicado “bloguista”. Tomei inicial contacto com seu texto poético no seu blog “10encantos” que é o título do mais recente livro publicado. Já na sua forma gráfica, cuja apresentação não deixa a desejar, peguei o “filhinho” do Soberano entre mãos, acariciei-o, senti-lhe o cheiro agradável, passeei brevemente nos textos, para constatar o modo de arrumação. Enquanto isso, a voz no microfone anunciava o nome Nguimba Ngola para tomar o lugar. Um friozinho toma conta de mim, é grande a responsabilidade, câmaras, olhares atentos expectantes da apresentação, “é o tio dos livros do tchilar…” ainda ouvi da plateia. Som e palavra é igual a poder. Ganhei o poder e comecei. Tirei partido da apresentação para o aconselhamento dos jovens sobe a importância da leitura. No final, as palmas. Ah, que alívio! Acabou, não é nada fácil falar ao público.
 
Já no aconchego dos lençóis, eis que meu anfitrião comunica que lhe foi pedido o texto da apresentação. Não o tinha. Apenas as notas rabiscadas em papel qual esboço orientador do pensamento. Um pequeno lap top foi-me entregue. Agora escreva o texto, disse-me Soberano Canhanga.
10encantos do Soberano

Analiso a poesia desencantada do Soberano em três dimensões: Dimensão textual, dimensão social e dimensão espiritual.
Os textos do Soberano se nos apresentam com uma estrutura externa não tradicional, não encontraremos formas fixas como o soneto. Sim. Os textos são desprovidos de métrica, impera porém o verso livre que deixa margens para maior criatividade e liberdade ao poeta.
Ainda assim, elementos poéticos básicos podem ser observados como a rima “Revejo/ num quarto agora vazio/ esse teu corpo tão esguio// Recrio/ emoções e amores loucos…/ voltam à vida aos poucos// Reencontro/ espalhados pelo chão/ roupas, beijos e paixão!” (in Sem medo, pg 85). O ritmo também confere beleza nos vários textos 10encantados. É sentir, por exemplo, “À fala com os meus botões” onde “tarda o sono/ nos sonhos a traição…” (pg 103), ou ainda “tórrida e sofrida/ minha pátria/ dorida…” (pg 53).
A linguagem poética, em muitos textos, torna-se expressiva pelo recurso de figuras e tropos e é assim que encontraremos “pretinha cor de nuvens”, “espertinha na quilometragem da idade”, “o sol já brinca no quintal”, “fustigai-vos ó ventos/ maltratai-vos ó águas/ façam-se remoinhos”, “no além da curva sanitária/ morre o sémen preguiçoso”.

A dimensão social dos poemas do Soberano Canhanga, reveste-se de textos, alguns dramáticos, porém apontado esperanças, “e sonhos de liberdade”. Sinto isso no poema “Êxodo” (pg 29). Quem não constata hoje, o drama nas vidas de muitos que “ontem/ na sanzala/ gente farta gritando/ canções alegres, intrépidas!”? E “Hoje/ na cidade/ gente magra/ esfarrapada/ entoa baladas tristes”… Profunda para todos, pois o contrário seria como diz o sujeito lírico do Soberano Canhanga apenas “paz podre” (pg 61), “paz sem perdão/ é tentar esquecer/ sem dar o braço a torcer/ não é paz, é podridão”.
Eis então que no que depender de todos nós, devemos buscar sempre a paz.
 
Sensível, o poeta, ante o drama da transição (morte), pede a que se chore a “mãe-grande”, mãe de seu “grande kota José Caetano”, “com prosa e poesia…// com pintura e escultura/ choremo-la com realidades e ficções/ choremo-la com ARTE!” (pg 33). São os 10encantos do poeta, desabafos e choros, “o mundo enfrentar/ sofrer (?)”.
O fenómeno prostituição também é motivo lírico pois pululam ao vento “kitata kuribeka”, que deixam suas tetas moribundas serem sugadas “no leito da morte”. Hoje é intensa a correria ao “álcool barrigudo” e, despudoradamente, vão “xaxatando nádegas flácidas” “mbunda ya kitadi”, “mbolo ya kizwa/ kufwa kidi!” (in Na cama de hotel, pg 18). O falante lírico vive intensamente suas paixões, descrevendo-as com nostalgia, rememorando sonhos e traições, e muitas vezes encantando-se com a beleza da(s) sua(s) amada(s).
Na dimensão espiritual, vejo o poeta convocar-nos para o cultivo. “Vinde e cultivai/ que é próprio o memento!” É o momento de amar verdadeiramente pois “ o nosso amor é a importância que nos atribuímos”. Todos aqueles que se furtarem ao verdadeiro amor devem perceber “que é chegada a ceifa” , “é chegado o julgamento/ do Cefeiro que chega à hora”, eis a infalível reintegração cósmica. O eu lírico confronta-se com a realidade mística “há vezes/ em que não sou eu quem age/ mas o oculto” (pg 44). Sim. É a inteligência universal comunicando.
Saurimo, 16.09.2013.

Sunday, September 01, 2013

FAIXA DE GAJA


Entre montanhas e a saia
Apenas savana e secura
Um túnel já sem distância
Ajuda quem por lá relaxa
Mais abaixo, a terra da promessa
Onde morre quem paus arremessa
Na vasta savana de relva escassa
Um bebedouro sedes aguça
Faixa da gaja
Entre montes gémeos e terra prometida
Caminho abaixo, a cova do umbigo
É entre saia e blusa!

In: "Amor sem Pudor"

Monday, August 05, 2013

AMOR A ZIGUE-ZAGUE

Assisti à compra do camião
Vi teu atrelado ser carregado
Também vi todo recheio ser roubado
Com o olhar saciei minha fome

Camião assaltado no tempo que corre
És hoje alimento para cães sem norte
Sede, tua, em aumento sem pudor
Resposta, minha, ausente um tormento.

In: "Amor sem pudor"

Thursday, July 04, 2013

FUKA YAMI (TERRA-MÃE)


 

Libolo

Inicialmente simples povoações

Básicas, sem estrelas, nem erudição,

Ordem e trabalho fizeram dela

Luzenta e admirada circunscrição

Orgulho desta Nação!

 

Monday, June 10, 2013

EU TENHO UM SONHO


> Que Saurimo será um centro de intelectualidade
> Que será uma candeia que irradiará sua luz a toda Angola
> Eu tenho um sonho
> Que as crianças que hoje assistem, sem opção, novelas brasileiras e
> mexicanas
> Distribuídas sem controlo, nem medição
> Venham a ser as mais cultas desta urbe
> Irradiando conhecimento à província e ao país
> Eu tenho um sonho
> Que desta pequena experiencia,
> O Núcleo de Amigos da Leitura e Literatura
> Nasça a árvore que alimentará a província e o país de luz e sabedoria.
> Eu tenho um sonho
> Que nunca mais a ignorância fará parte de nossas vivências
> Que a ciência e a razão serão nossas armas
> E nunca mais a razão da força e do ocultismo.
> Eu tenho um sonho...

> (Inspirado no "I have a dream" de M. Luther King Jr.)

Saturday, June 01, 2013

É HORA


Tocou a sineta

É o pássaro que está no cimo

Quem faz deslocar o sino

Cá dentro, outros sinos tocam em mim


É, desde sempre, minha sina:

Toca o sino no cimo da igreja

Sinos internos em mim pelejam

Wednesday, May 01, 2013

RESILIÊNCIA

Fez vendaval,
Apesar de caule brando,
A árvore não resvalou
Apenas folhas se soltaram e
Ramos levados pelo vento

Permaneceu hirto o tronco
Enraizado no solo másculo

Não foi desta vez!

Monday, April 01, 2013

BRIGADISTA

Mal o sol raiou
Manhã cedo intruso chegou
Sua má nova anunciou
Vulcão já em erupção mostrar seu clarão

Quem pega o intriguista-cão?
Que desgovernado ladra como vulcão?
Quem ao acusado julga com perfeição?
Quem ao condenado mais estende a mão?

Chegou a hora da verdade
Todos despidos de vaidades
Discursos directos, sem veleidades
Homem condenado depressa em liberdade
Dos intriguistas quem mais quer piedade?

Num campo dragões vomitam razões
Noutro razões idosas disputam acções
Voam cegonhas
Destapam-se vergonhas
Quebram-se silêncios
Rolam edifícios
Ossos do ofício?

Monday, March 11, 2013

ALMA SANGRENTA


Um tufão de dor varre meu corpo estropiado
Enqanto lavas de sangue atravessam minha alma mutilada
O corpo estropiado sara
Porém, minh' alma mutilada sangra sem cor, sem valor


Queria meu corpo perdoar
Não fosse esse esvair sem fim
Da vida a terminar
Como artista sem delfim

Neste sepulcro em que me encontro
Me convidas para de novo sorrir
Como nos dias em que teu calor senti
Mas já cá não mora o alento

Meu corpo de fogo viciado pede
É teu o afago mais quente
Mas minh´alma em lavas se despede
É outro o mundo que me percebe?

Morri
Apenas corpo presente
Já cá não mora quem sente
Só alma farrapo


Thursday, February 14, 2013

DEPOIS DO AMOR O AMOR


Cama quente

Briga ausente

Saudade disso quem não sente?

Uns apenas consentem

Intrigas e pelo meio presentes

Para manter calma a corrente

Outros ainda tocam vida prá frente

Ignorando pentes e serpentes

Mantendo Vida alegre

Frestas e ventos ao poeta trazem

Vídeos e escritos que traduzem

Quão bom é ter cama quente!

Friday, February 01, 2013

SOMBRA DE REALEZA


(À Rosa, enfermeira do HMP)

Pasmo
Rodeia almas estropiadas
Encurraladas por vontades seculares
Há uma sombra de realeza que espanta!

No rasgo da noite
Apenas silêncios recticentes
Enchendo corações de amores abstratos
É a tua sombra que encanta!

No além da curva sanitária
Morre o sêmen preguiçoso
Esvaziando o imaginário doentio
Apenas Rosa!

Luanda, 11.08.2000

Tuesday, January 01, 2013

AO HOMEM

Três caminhos apenas:

- Ignorar e esquecer
- Aturar e sofrer
- Partir e recomeçar

Um destes é meu!

25.02.2004