Cinta sobre a cintura
Sujo-descalço
Ventre denunciado gravidez
Já no seu sétimo mês.
É miséria o devir
Ranho substituindo leite roubado
Lá vai o monandengue
Carregando cama-papelão
Mutilando sonhos na ponte-mansão
Diambula pela cidade sem paradeiro
Na noite escura do petróleo exportado
Na barriga-cheia dos homens do morro
Que sugam folhas como abelhas
Solta o grito:
- ai tio, me dá só cinquenta!
Monday, December 12, 2011
Friday, December 09, 2011
AIS!
Homens mandados na guerra
Lá enterrados na terra
Mulheres desoladas
Eternamente preocupadas
Sem pão p´ros chorões monandengues
Que aos gritos reclamam pais ausentes
Todos em ais clamando
Sem emprego
Sem formação
E eu também esperando minha vez
Para que a terra me coma de vez
Só choro também
Ai minha Angola!
25.05.1996
Lá enterrados na terra
Mulheres desoladas
Eternamente preocupadas
Sem pão p´ros chorões monandengues
Que aos gritos reclamam pais ausentes
Todos em ais clamando
Sem emprego
Sem formação
E eu também esperando minha vez
Para que a terra me coma de vez
Só choro também
Ai minha Angola!
25.05.1996
Tuesday, November 01, 2011
BURACO NEGRO
Entre terra e mar
Um tufão se forma dentro de mim
Buummm!
Pedaços meus espalhando essa dor inócua
Fustigai-vos óh ventos
Maltratai-vos óh águas
Façam-se remoinhos
Mas deixai-me espraiar-me neste sepulcro
Arrancai vossos corações impiedosos
Tocai vossas ngomas de ódio
Encham-se cabaças de fel
Mas deixa-me aqui escalando este cume
Um tufão se forma dentro de mim
Buummm!
Pedaços meus espalhando essa dor inócua
Fustigai-vos óh ventos
Maltratai-vos óh águas
Façam-se remoinhos
Mas deixai-me espraiar-me neste sepulcro
Arrancai vossos corações impiedosos
Tocai vossas ngomas de ódio
Encham-se cabaças de fel
Mas deixa-me aqui escalando este cume
Sunday, October 09, 2011
CHORO INÚTIL DE MULHER
Por que choras mãe
Se dos que ontem partiram não há noticias de regresso?
Por que choras mulher
Se tuas lágrima de ontem ainda corre na savana
Por que lamentas velha Ngonga
Se de teus netos restam sacrifícios apenas
O meu irmão partiu
Não sei p´ra onde
À força
Acorrentado
Pontapeado seguiu para a guerra
O primo também partiu
Maltratado
Abandonou a escola
Qual ladrão para o carro jogado
É sargento agora
O sol passa
De lua em lua
Naquela trincheira do sul
Naquela cela do norte
Naquela mata do nordeste
Só trevas
Só trevas os rodeiam
Se dos que ontem partiram não há noticias de regresso?
Por que choras mulher
Se tuas lágrima de ontem ainda corre na savana
Por que lamentas velha Ngonga
Se de teus netos restam sacrifícios apenas
O meu irmão partiu
Não sei p´ra onde
À força
Acorrentado
Pontapeado seguiu para a guerra
O primo também partiu
Maltratado
Abandonou a escola
Qual ladrão para o carro jogado
É sargento agora
O sol passa
De lua em lua
Naquela trincheira do sul
Naquela cela do norte
Naquela mata do nordeste
Só trevas
Só trevas os rodeiam
Friday, September 09, 2011
MINH´ANGOLA
Tórrida e sofrida
Minha pátria
Dorida, martirizada
Minha terra
Amargurada e atormentada
Sem descanso
Sem paz
Sem água
Pão, alguém viu?
Sem puro oxigénio
Roubado de árvores estropiadas
Quem contou?
As bombas que matam homens
Os rios feitos de lágrimas
As bocas sedentas de tudo
Até quando?
O brotar de novas acácias
O rasgar do luto destes tempos
O sorrir despreocupado das crianças …
Minha pátria
Dorida, martirizada
Minha terra
Amargurada e atormentada
Sem descanso
Sem paz
Sem água
Pão, alguém viu?
Sem puro oxigénio
Roubado de árvores estropiadas
Quem contou?
As bombas que matam homens
Os rios feitos de lágrimas
As bocas sedentas de tudo
Até quando?
O brotar de novas acácias
O rasgar do luto destes tempos
O sorrir despreocupado das crianças …
Saturday, August 06, 2011
AQUI ATÉ MORRER
Plantado na solidão e castigado sem apelo
Eis-me aqui neste canto
Olhando teu rasto passar
Sem palavras, nem presentes bonitos p´ra te dar.
Na rota contínua do sol
Quedando-se no azul do mar
Sempre aqui nesta cama, sonhando acordado
Vivendo a custa do sofrer e cantando versos ao léu!
Eis-me aqui neste canto
Olhando teu rasto passar
Sem palavras, nem presentes bonitos p´ra te dar.
Na rota contínua do sol
Quedando-se no azul do mar
Sempre aqui nesta cama, sonhando acordado
Vivendo a custa do sofrer e cantando versos ao léu!
Saturday, July 09, 2011
ÂNSIA DE AMAR
No teu colo frágil de mulher
Com quentura de ovelha
Minh´alma quer descanso
Em teus braços de trepadeira
Se estendendo da terra ao céu
Empurrando pr´o voo meu eu
Em tua boca mulheril
Louca e carnuda do beijo refractário
Pecaminosa como a maçã setembrina
Minha língua anseia habitar
E sentir o agridoce do teu beijo
Perdido nos olhares que se dispersam
No teu colo juvenil,
Frio no verão e quente no inverno
Minha mente quer repouso
E desfazer-se da virgindade
Que a timidez instalou em mim
É hora!
Com quentura de ovelha
Minh´alma quer descanso
Em teus braços de trepadeira
Se estendendo da terra ao céu
Empurrando pr´o voo meu eu
Em tua boca mulheril
Louca e carnuda do beijo refractário
Pecaminosa como a maçã setembrina
Minha língua anseia habitar
E sentir o agridoce do teu beijo
Perdido nos olhares que se dispersam
No teu colo juvenil,
Frio no verão e quente no inverno
Minha mente quer repouso
E desfazer-se da virgindade
Que a timidez instalou em mim
É hora!
Thursday, June 09, 2011
CHEGA DE JURAS
Procurei-te
Teu cheiro nas pétalas não mais encontrei
Secou a flor
Com ela Sumiste como o vapor que se dilui no espaço
Assim era tão efémero teu amor
Mil vezes cantado ao ouvido surdo
Quantas juras prometidas?
Teu cheiro nas pétalas não mais encontrei
Secou a flor
Com ela Sumiste como o vapor que se dilui no espaço
Assim era tão efémero teu amor
Mil vezes cantado ao ouvido surdo
Quantas juras prometidas?
Tuesday, May 31, 2011
MILDE HUMILDE MULHER
MILDE HUMILDE MULHER
É ela
Milde mulata monaputo
de pai fugido na corrida dos cravos
virando kitata afamada no Sueiro
Amigada com preTuga fubeiro
Viveu
ensinado arte antiga de xaxatagem
a kamabwins, meninos da kabunga
É ela, agora
Meiga humilde mulher
cantando velhos “nga dibeka kwá Jezú”
ou cosendo batas do caçula monandengwe
rasgadas no liceu empedrado
É ainda ela
varrenddo ruas da maratona emporcalhada,
assobiando tat´êtu kudyulo!
É minha sogra agora
de panos riscados
kassumbulados do estranja Kamará
e vendidos pelo muzangala da kangonha
É sempre a mesma
cuidando monandegwes trazidos
anos sim, anos sempre
pelos monas deseducados nos xaxatanços da mocidade
parte-bracista do tempo de kaprandanda
Conta agora
curvas e contra-curvas das apanha moedas
de Cinco Réis!
E, de kaxexe, ganha juízo…
É ela
Milde mulata monaputo
de pai fugido na corrida dos cravos
virando kitata afamada no Sueiro
Amigada com preTuga fubeiro
Viveu
ensinado arte antiga de xaxatagem
a kamabwins, meninos da kabunga
É ela, agora
Meiga humilde mulher
cantando velhos “nga dibeka kwá Jezú”
ou cosendo batas do caçula monandengwe
rasgadas no liceu empedrado
É ainda ela
varrenddo ruas da maratona emporcalhada,
assobiando tat´êtu kudyulo!
É minha sogra agora
de panos riscados
kassumbulados do estranja Kamará
e vendidos pelo muzangala da kangonha
É sempre a mesma
cuidando monandegwes trazidos
anos sim, anos sempre
pelos monas deseducados nos xaxatanços da mocidade
parte-bracista do tempo de kaprandanda
Conta agora
curvas e contra-curvas das apanha moedas
de Cinco Réis!
E, de kaxexe, ganha juízo…
Thursday, April 07, 2011
SANGUE NA BICA D'ÁGUA
Sangue
salpicando sobre pedras
paridas num tempo esquecido
duras, ressequidas
carentes duma bica d'água
Sangue
entre corpos andrajosos
em viagem sem fim
num pobre atalho
abraçando orgasmos férteis
Sangue
entre gente humilde
regressada da saudade morta
noutra terra de peregrinação obrigatória
É natal
e jorra sangue na Bica d'água!
salpicando sobre pedras
paridas num tempo esquecido
duras, ressequidas
carentes duma bica d'água
Sangue
entre corpos andrajosos
em viagem sem fim
num pobre atalho
abraçando orgasmos férteis
Sangue
entre gente humilde
regressada da saudade morta
noutra terra de peregrinação obrigatória
É natal
e jorra sangue na Bica d'água!
Monday, March 21, 2011
VENDAVAL
Escuso-me olhar aos ventos
que luzes carregam
derrubando grilhões
Tão pouco respiro silêncios heurísticos
impostos p'lo tormento do chicote
que amansa massas carentes
Recuso-me viver vida-prisão
asfixiada e suplicante
Carregai-me por isso oh ventos do norte!
que luzes carregam
derrubando grilhões
Tão pouco respiro silêncios heurísticos
impostos p'lo tormento do chicote
que amansa massas carentes
Recuso-me viver vida-prisão
asfixiada e suplicante
Carregai-me por isso oh ventos do norte!
Saturday, February 19, 2011
PARTIU A MÃE GRANDE*
Choremo-la com arte
Com a ngoma e dikanza
Lá nos altos Céus,
Onde Deus lhe reservou o merecido lugar,
Com certeza,
Gostará das obras boas de filhos e amigos
Choremo-la com prosa e poesia...
Com pintura e escultura
Choremo-la com realidades e ficções,
Choremo-la de verdade!
* Homenagem à doan Luzia mãe do meu grande Kota Caetano
Com a ngoma e dikanza
Lá nos altos Céus,
Onde Deus lhe reservou o merecido lugar,
Com certeza,
Gostará das obras boas de filhos e amigos
Choremo-la com prosa e poesia...
Com pintura e escultura
Choremo-la com realidades e ficções,
Choremo-la de verdade!
* Homenagem à doan Luzia mãe do meu grande Kota Caetano
Sunday, January 02, 2011
PULMÃO CARENTE
Quando o sol do amor bater tua porta
Aqui estarei
Sorvendo a saudade do teu aroma
Refugiado na imaginação dum dia sem história
Quando a porta do teu coração se abrir
Aqui estarei
Para teus olhos meu sorriso colorir
Na imensidão desta floresta sem fim
Quando o sol do amor em ti raiar
Aqui estarei
Mostrando a flor nascente aos ares norte-leste
Que enchem este pulmão carente!
Aqui estarei
Sorvendo a saudade do teu aroma
Refugiado na imaginação dum dia sem história
Quando a porta do teu coração se abrir
Aqui estarei
Para teus olhos meu sorriso colorir
Na imensidão desta floresta sem fim
Quando o sol do amor em ti raiar
Aqui estarei
Mostrando a flor nascente aos ares norte-leste
Que enchem este pulmão carente!
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