NOTA PRÉVIA DO AUTOR
O meu Sonho começado nos anos 90 e retomado com mais vigor com a abertura desta página vê-se realizado com a publicação do livro que traz o mesmo título deste Blog. Vamos caminhar, buscando agora atingir a forma e perfeição inatingidos no primeiro poemário. Siga-nos atento como o faz Nguimba Ngola.
Por:
Nguimba Ngola
Setembro
é o mês em que nasceu Agostinho Neto e, no dia 17, o nosso poeta transita. O povo
lembra-se dele nas várias dimensões da sua vida, como poeta e político. Na Cidade Diamante, a cidade da Pedra
Brilhante, Neto também foi lembrado. Várias foram as actividades.
Na
manhã do dia 16, o anfiteatro da Escola Média Politécnica, transbordou
literalmente de alunos. Sim. Plateia jovem ouve atentamente a governadora,
Cândida Narciso, palestrando sobre Agostinho Neto. Em seguida, vem a
apresentação do terceiro (O Sonho de Kaúia, Manongo-Nongo, 10encantos) livro do
escritor Soberano Canhanga, jovem de Libolo, onde nasceu há 37 anos.
A mim, coube
a missão, desnecessária (?), de apresentar o livro que, depois de alguma
relutância, aceitei porquanto tinha sido indicada outra apresentadora que por
motivos alheios não se fez presente.
Soberano
é um dedicado “bloguista”. Tomei inicial contacto com seu texto poético no seu
blog “10encantos” que é o título do mais recente livro publicado. Já na sua
forma gráfica, cuja apresentação não deixa a desejar, peguei o “filhinho” do
Soberano entre mãos, acariciei-o, senti-lhe o cheiro agradável, passeei
brevemente nos textos, para constatar o modo de arrumação. Enquanto isso, a voz
no microfone anunciava o nome Nguimba Ngola para tomar o lugar. Um friozinho
toma conta de mim, é grande a responsabilidade, câmaras, olhares atentos
expectantes da apresentação, “é o tio dos livros do tchilar…” ainda ouvi da
plateia. Som e palavra é igual a poder. Ganhei o poder e comecei. Tirei partido
da apresentação para o aconselhamento dos jovens sobe a importância da leitura.
No final, as palmas. Ah, que alívio! Acabou, não é nada fácil falar ao público.
Já no aconchego dos lençóis, eis que meu anfitrião comunica que lhe foi pedido o
texto da apresentação. Não o tinha. Apenas as notas rabiscadas em papel qual
esboço orientador do pensamento. Um pequeno lap top foi-me entregue. Agora
escreva o texto, disse-me Soberano Canhanga.
10encantos do
Soberano
Analiso a poesia desencantada do
Soberano em três dimensões: Dimensão textual, dimensão social e dimensão
espiritual.
Os textos do Soberano se nos
apresentam com uma estrutura externa não tradicional, não encontraremos formas
fixas como o soneto. Sim. Os textos são desprovidos de métrica, impera porém o
verso livre que deixa margens para maior criatividade e liberdade ao poeta.
Ainda assim, elementos poéticos
básicos podem ser observados como a rima “Revejo/ num quarto agora vazio/ esse
teu corpo tão esguio// Recrio/ emoções e amores loucos…/ voltam à vida aos
poucos// Reencontro/ espalhados pelo chão/ roupas, beijos e paixão!” (in Sem
medo, pg 85). O ritmo também confere beleza nos vários textos 10encantados. É
sentir, por exemplo, “À fala com os meus botões” onde “tarda o sono/ nos sonhos
a traição…” (pg 103), ou ainda “tórrida e sofrida/ minha pátria/ dorida…” (pg
53).
A linguagem poética, em muitos
textos, torna-se expressiva pelo recurso de figuras e tropos e é assim que
encontraremos “pretinha cor de nuvens”, “espertinha na quilometragem da idade”,
“o sol já brinca no quintal”, “fustigai-vos ó ventos/ maltratai-vos ó águas/
façam-se remoinhos”, “no além da curva sanitária/ morre o sémen preguiçoso”.
A dimensão social dos poemas do Soberano Canhanga, reveste-se de textos, alguns dramáticos, porém apontado esperanças, “e sonhos de liberdade”. Sinto isso no poema “Êxodo” (pg 29). Quem não constata hoje, o drama nas vidas de muitos que “ontem/ na sanzala/ gente farta gritando/ canções alegres, intrépidas!”? E “Hoje/ na cidade/ gente magra/ esfarrapada/ entoa baladas tristes”… Profunda para todos, pois o contrário seria como diz o sujeito lírico do Soberano Canhanga apenas “paz podre” (pg 61), “paz sem perdão/ é tentar esquecer/ sem dar o braço a torcer/ não é paz, é podridão”. Eis então que no que depender de todos nós, devemos buscar sempre a paz.
A dimensão social dos poemas do Soberano Canhanga, reveste-se de textos, alguns dramáticos, porém apontado esperanças, “e sonhos de liberdade”. Sinto isso no poema “Êxodo” (pg 29). Quem não constata hoje, o drama nas vidas de muitos que “ontem/ na sanzala/ gente farta gritando/ canções alegres, intrépidas!”? E “Hoje/ na cidade/ gente magra/ esfarrapada/ entoa baladas tristes”… Profunda para todos, pois o contrário seria como diz o sujeito lírico do Soberano Canhanga apenas “paz podre” (pg 61), “paz sem perdão/ é tentar esquecer/ sem dar o braço a torcer/ não é paz, é podridão”. Eis então que no que depender de todos nós, devemos buscar sempre a paz.
Sensível, o poeta, ante o drama da
transição (morte), pede a que se chore a “mãe-grande”, mãe de seu “grande kota
José Caetano”, “com prosa e poesia…// com pintura e escultura/ choremo-la com
realidades e ficções/ choremo-la com ARTE!” (pg 33). São os 10encantos do poeta,
desabafos e choros, “o mundo enfrentar/ sofrer (?)”.
O fenómeno prostituição também é
motivo lírico pois pululam ao vento “kitata kuribeka”, que deixam suas tetas
moribundas serem sugadas “no leito da morte”. Hoje é intensa a correria ao
“álcool barrigudo” e, despudoradamente, vão “xaxatando nádegas flácidas” “mbunda
ya kitadi”, “mbolo ya kizwa/ kufwa kidi!” (in Na cama de hotel, pg 18).
O falante lírico vive intensamente
suas paixões, descrevendo-as com nostalgia, rememorando sonhos e traições, e
muitas vezes encantando-se com a beleza da(s) sua(s) amada(s).
Na dimensão espiritual, vejo o
poeta convocar-nos para o cultivo. “Vinde e cultivai/ que é próprio o memento!”
É o momento de amar verdadeiramente pois “ o nosso amor é a importância que nos
atribuímos”. Todos aqueles que se furtarem ao verdadeiro amor devem perceber
“que é chegada a ceifa” , “é chegado o julgamento/ do Cefeiro que chega à hora”,
eis a infalível reintegração cósmica. O eu lírico confronta-se com a realidade
mística “há vezes/ em que não sou eu quem age/ mas o oculto” (pg 44). Sim. É a
inteligência universal comunicando.
Saurimo,
16.09.2013.
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